Antes de perguntarmos se a sociedade angolana está preparada para ter uma mulher como presidente da República, é crucial perguntar o seguinte: Quantas mulheres são, de facto, generais de topo no exército angolano? Actualmente, Angola conta com um número muito reduzido de generais do sexo feminino. Esta questão revela muito sobre as barreiras que as mulheres enfrentam ao tentar ascender em áreas tradicionalmente dominadas pelos homens.
Por Malundo Kudiqueba Paca
Para que Angola tenha uma presidente mulher, seria necessário uma transformação profunda e abrangente nos valores, atitudes e normas que regem a sociedade angolana — uma verdadeira “revolução cultural”. Essa mudança implica revisar crenças enraizadas sobre o papel e o valor da mulher na liderança e na esfera pública, assim como redefinir o que se entende por competência, poder e autoridade. Uma revolução cultural significaria desafiar e desconstruir essa visão, promovendo a ideia de que mulheres são igualmente capazes e têm o direito de ocupar os mesmos espaços de poder.
A ausência ou escassez de mulheres em posições de alto comando nas Forças Armadas Angolanas é um reflexo directo das limitações impostas às mulheres nos níveis mais altos de liderança. Num ambiente onde o respeito pela hierarquia militar está fortemente ligado à figura masculina, o acesso de mulheres a posições de topo enfrenta resistência tanto cultural quanto institucional. Se o exército angolano — uma das principais instituições de poder no país — ainda não confere às mulheres papéis de comando, como se espera que a sociedade aceite uma mulher a liderar toda a nação?
Para que uma mulher seja presidente, é necessário que exista uma base de apoio forte em várias instituições, incluindo o exército, que desempenha um papel essencial na segurança e estabilidade do país. No entanto, a realidade mostra que ainda há um longo caminho a percorrer até que o número de mulheres em cargos militares de topo seja significativo.
As instituições angolanas — desde o exército até os partidos políticos — são fortemente dominadas por homens. Para que uma mulher alcance a Presidência, seria necessário reestruturar essas instituições para que sejam mais inclusivas e abertas à liderança feminina. Isso inclui garantir igualdade de acesso a posições de liderança, criar políticas de incentivo e combater a discriminação de género.
Os generais e oficiais de alta patente, que possuem uma influência significativa na política e na economia de Angola, estão habituados a uma cadeia de comando dominada por homens. Numa sociedade onde os generais ditam as regras, aceitar ordens de uma mulher é um insulto. Para muitos desses homens, receber instruções de uma mulher é algo impensável, interpretado por vezes como uma afronta à sua autoridade e dignidade pessoal.
Mas não basta examinar a resistência masculina. Para responder se Angola está realmente pronta para ter uma mulher na Presidência, é essencial também questionar se as próprias mulheres se consideram preparadas para esse papel. Em muitos sectores, as mulheres angolanas enfrentam barreiras socioeconómicas e políticas que restringem a sua ascensão a cargos de liderança. Além disso, a própria sociedade angolana, incluindo muitas mulheres, foi condicionada a duvidar das capacidades de liderança feminina.
O empenho de João Lourenço em promover a inclusão das mulheres projecta uma imagem positiva de Angola no cenário internacional. Muitos países e organizações globais valorizam a promoção de igualdade de género como um dos indicadores de progresso e desenvolvimento sustentável. A presença de mulheres no poder reforça a imagem de Angola como um país moderno e comprometido com os direitos humanos. Essa visão mais inclusiva facilita parcerias e atrai investimentos, demonstrando que o país valoriza e promove políticas progressistas.
As mulheres em Angola, de modo geral, ainda estão a lutar por direitos básicos de igualdade de género, incluindo a representação em cargos de decisão. Uma presidente mulher só será possível quando as mulheres tiverem o mesmo acesso ao poder, à educação e à autonomia económica que os homens.
A ascensão de uma mulher ao posto de general não depende apenas da sua competência individual, mas também de um sistema de apoio institucional que incentive e valorize a presença feminina. Actualmente, Angola carece de políticas e programas que promovam activamente a inclusão de mulheres nas Forças Armadas e que as preparem para posições de liderança. Nos países onde as mulheres conseguiram alcançar patentes militares elevadas, verificam-se programas de promoção de igualdade de género e incentivos para a formação militar feminina — algo que falta em Angola.
Sem políticas de inclusão, as mulheres permanecem limitadas a posições secundárias. No exército angolano, muitas vezes as mulheres acabam por ser direccionadas para funções administrativas ou de apoio, em vez de posições estratégicas ou de combate, limitando as suas oportunidades de progressão.
Além das barreiras culturais, as mulheres enfrentam desafios logísticos e sociais específicos. As condições de trabalho e de vida nas forças armadas, especialmente em missões de campo e em regiões remotas, podem ser extremamente difíceis para as mulheres, devido à falta de infra-estruturas adequadas que garantam a segurança e o bem-estar. Para uma mulher ascender a general, precisa de enfrentar condições que, frequentemente, não estão adaptadas às suas necessidades básicas. Essa falta de condições apropriadas desincentiva muitas mulheres a perseguirem uma carreira de longo prazo no exército.
Para que Angola possa ver mais mulheres em cargos de generalato, será necessário implementar uma reforma estrutural nas Forças Armadas que inclua políticas de incentivo, condições adequadas para o serviço feminino, programas de mentoria e campanhas de sensibilização sobre a importância da igualdade de género na defesa nacional. Esta mudança requer vontade política e compromisso das lideranças militares para redefinir o conceito de competência e liderança, tornando-o mais inclusivo e diversificado.